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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quando João Gabriel nasceu, algo absolutamente esplendoroso aconteceu em minha vida. Só voltei a sentir a mesma sensação 4 anos depois, quando nasceu a minha sapeca Ana Alice. A viagem para Bournelândia, para onde todos fomos transportados de um jeito ou de outro, começou aos tropeços, mas depois se mostrou tranquila. Esperamos que ele morresse durante quase 1 ano.... como a promessa de morte ao se cortar o cordão umbilical não foi cumprida, fomos sistematicamente ameaçados com o "vai morrer amanhã...". Ficamos todos hospitalizados durante meses, vendo aquele menino lindo, iluminado, o "bebê milagre", como o chamavam no hospital. Aí, fomos despejados do hospital universitário, porque havia outros bebês precisando de leito. Fomos amadurecendo com aquele menino sorridente, que rapidamente engatinhava (sempre de marcha ré), e que logo em seguida começou a nadar em um curso em que eu ia com ele todos os sábados, com sol ou com neve (morávamos em Québec, Canadá). Era muito legal vê-lo nadar antes de aprender a andar... Voltávamos ao hospital regularmente, para que ele tivesse o coração escaneado e para que a esclerose fosse devidamente mapeada e acompanhada. E todos sempre se surpreendiam com o desenvolvimento absolutamente normal do meu filho. Desde o primeiro momento em que estivemos com ele por nossa conta, a palavra de ordem era "estímulos, estímulos e mais estímulos". Natação, equitação, esqui, leitura, muita leitura, música, muita música, e amor, muito amor. A equipe do Hospital Sarah, daqui de Brasília, vendo-o hoje aos 20 anos e tocando piano, falando inglês e francês, curtindo a juventude a todo vapor, dirigindo pra todo lado, viajando sozinho para o exterior, todo fortão, cheio de amigos, o considera uma exceção construída à força de todo o estímulo que jamais foi economizado. Há alguns dias atrás, na academia onde me exercito semanalmente, vi um garotinho com os sinais, um outro habitante de Bournelândia. Ele estava no guarda-volumes enquanto alguém, por alguns minutinhos, tinha ido ao banheiro. Eu conversei rapidamente com ele, perguntei se estudava, onde estudava, se ia bem na escola... Logo em seguida encontrei-me com a mãe dele, que estava por ali, cuidando dos afazeres da manutenção da academia. Ela também tinha os sinais. Perguntei a ela sobre a Bournelândia. Ela nunca tinha ouvido falar a respeito... Eu me preparei para dar uma aula a ela sobre este país, mas acabei deixando pra lá... afinal, tudo estava bem, tudo estava no seu lugar... Duas semanas depois, eles sumiram, acho que ela foi demitida... nunca mais tive notícias deles, o que não me impede de visualizar a face alegre daquele menino todas as vezes que eu olho o meu filho. E é pensando nele que eu me encho de alegria para desejar a todos um Feliz Natal!

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